29/03/2016

Cientistas japoneses fazem operação para tentar salvar satélite fora de controle


Dezenas de cientistas e engenheiros japoneses estão lutando para salvar um satélite - e milhões de dólares em investimento – que está fora de controle no espaço.
O satélite Hitomi, que significa a "pupila", foi lançado no mês passado.
Ele foi projetado para estudar objetos espaciais como buracos negros supermaciços, estrelas de nêutrons e aglomerados de galáxias, observando comprimentos de onda de energia de raios-X para raios gama.
Mas o tempo para salvar a missão está se esgotando.

O que aconteceu?
No último sábado, o Centro de Operações Espaciais dos Estados Unidos, que rastreia detritos espaciais, detectou cinco pequenos objetos ao redor do satélite.
O Japão até conseguiu um breve contato com a nave espacial depois disso, mas, em seguida, essa comunicação foi perdida.
O satélite também teria sofrido uma súbita mudança de rota. E observadores já o viram como uma luz piscando, o que sugere que ele possa estar caindo.
No dia seguinte, o Centro americano de Operações se referiu ao incidente como um "rompimento", apesar de que especialistas já esclareceram que o Hitomi pode estar praticamente intacto.
Mas, então, o que aconteceu com o satélite?
A Agência Espacial Japonesa (Jaxa) disse à BBC que não sabia, até o momento, o que teria acontecido com o Hitomi e que ainda está tentando restabelecer a comunicação com ele.
Jonathan McDowell, um astrônomo do Centro de Astrofísica de Harvard, disse à agência de notícias AP que há duas possibilidades: uma explosão de bateria ou um vazamento de gás, colocando o satélite em um giro e o deixando incomunicável.
"É muito triste saber que isso aconteceu. Eu sei como a missão foi feita e sei que poderia ter acontecido conosco. O espaço não perdoa."
Mas o diretor de projetos do programa de satélite da Universidade Nacional de Singapura, Goh Cher Hiang, afirmou à BBC que graças ao sistema de monitoramento e de backup, as explosões de bateria eram "muito raras", enquanto um vazamento dos tanques pressurizados de combustível em satélites poderiam causar problemas.
Fatores externos poderiam também ser uma razão, explicou ele. "Pode ser também de uma colisão, seja algo do espaço mesmo ou um objeto feito pelo homem que estivesse lá."
Segundo ele, pequenos objetos não são necessariamente detectados por radares, e com peças ainda menores "uma colisão pode causar prejuízos graves" por causa da alta velocidade.

É raro perder um satélite?
"É raro", afirmou Goh. "Mas não é impossível – e é o motivo pelo qual muita gente adquire seguro de satélite, só para esses casos."
Uma falha completa da operação, em que nada poderia ser salvo da missão original, é ainda mais rara, especialmente quando parte de "instituições com reputação".

E agora?
Se for comprovado que é impossível salvar o satélite, a missão terá criado um imenso buraco negro em suas finanças. Os US$ 273 milhões investidos pelo governo japonês ainda não incluem os instrumentos fornecidos pela Nasa, pela Agência Espacial Canadense, ou pela Agência Europeia Espacial.
Seria também o terceiro satélite de raio-X japonês perdido ou criticamente afetado. Em 2000, o foguete que levava o satélite Astro-E caiu no mar e, quando seu sucessor, Suzaku, alcançou o espaço, seu instrumento principal acabou desativado por um vazamento de hélio em 2005.
Mas a Jaxa conseguiu recuperações pouco prováveis antes. Os engenheiros conseguiram obter a sonda Akatsuki na órbita de Vênus em dezembro do ano passado, depois de cinco anos que a nave espacial estava à deriva no espaço.

Existem razões para se ter esperanças?
O fato de a agência ter tido contato com o Hitomi por um curto período mesmo depois que os detritos foram encontrados próximo ao satélite é visto por alguns como um sinal de esperança, já que poderia indicar que a nave não está completamente destruída. A localização dela também é pouco conhecida.
Mas a recuperação rápida seria essencial. Se o satélite estiver caindo no espaço, como se pensa que está, ele pode não ser capaz de captar energia solar suficiente para se manter até ser encontrado.
Tudo depende de três fatores, segundo Goh. "Uma é comunicação; a segunda é energia; a terceira é o computador. Mas o mais importante agora é conseguir se comunicar com o satélite."
Se conseguirem fazer isso, a Jaxa tem a chance de descobrir o que houve de errado e como consertar. Mas se isso não for possível, "eles estarão perdidos".

Fonte: BBC
Foto: BBC/Jaxa