13/04/2016

Doenças trazidas de África pelos humanos modernos podem ter dizimado neandertais


Os neandertais que viviam na Europa podem ter sido infetados por doenças trazidas de África pelos humanos modernos

Terão sido as doenças trazidas de África pelos antepassados dos humanos a dizimar os neandertais? Um novo estudo indica que estas podem ter tido um papel importante e contribuído para o desaparecimento da espécie.

Segundo dois investigadores britânicos, os neandertais que viviam na Europa podem ter sido infetados por doenças trazidas de África pelos humanos modernos, Homo Sapiens, há 80 mil anos. Sendo ambas espécies de hominídeos, a transmissão de vírus entre as populações teria sido possível e provável, defendem.

A revisão das mais recentes descobertas sobre os genomas dos vírus e bactérias permite concluir que algumas doenças infecciosas são provavelmente muitos milhares de anos mais antigas do que se acreditava, explicam os investigadores de Cambridge e Oxford Brookes. E há sinais de que os vírus chegaram aos humanos através de outros hominídeos, ainda em África. Assim, os cientistas argumentam que faz sentido supor que os humanos tenham, por sua vez, passado as doenças aos neandertais.

A geneticista Charlotte Houldcroft, do departamento de Biologia Antropológica de Cambridge, diz que muitas das infeções que provavelmente passaram para os neandertais - tuberculose, úlceras do estômago e tipos de herpes - são doenças crónicas que terão enfraquecido os neandertais, tornando estes caçadores-recoletores menos capazes, o que terá contribuído para a extinção da espécie.

"Para a população neandertal da Eurásia, a exposição a novos agentes patogêneos trazidos de África pode ter sido catastrófica", explica Houldcroft. "No entanto, é pouco provável que tenha sido semelhante ao que aconteceu nas Américas quando Colombo levou doenças que dizimaram as populações nativas", ressalva. É mais provável que os pequenos grupos de neandertais tenham tido interações e sido infetados, tendo sido enfraquecidos por estes desastres, o que acabou por desequilibrar a balança contra a sobrevivência.

A teoria apoia-se nas descobertas proporcionadas por novas técnicas desenvolvidas nos últimos anos, que permitiram aos investigadores explorar o passado das doenças, estudando o seu código genético, bem como extrair ADN dos nossos antepassados e procurar sinais de doenças.

No artigo publicado no American Journal of Physical Anthropology, os cientistas defendem que muitas doenças infecciosas têm evoluído lado a lado como os humanos e com os nossos antepassados há dezenas de milhares de anos.

A teoria dominante defende que as doenças infecciosas explodiram com o aparecimento da agricultura há cerca de oito mil anos, quando as populações humanas começaram a assentar em povoações com mais densidade e onde humanos e gado viviam lado a lado, criando o ambiente perfeito para a disseminação das infeções.

Fonte: Diário de Notícias
IMAGEM: NIKOLA SOLIC/REUTERS