29/05/2016

Bienal de Veneza sugere cópias para preservar patrimônios da humanidade


O museu londrino Victoria and Albert (V&A) e a Bienal de Arquitetura de Veneza apresentaram nesta sexta-feira (27) um projeto especial para impedir que mudança climática, das guerras, do turismo em massa e desastres naturais destruam o patrimônio mundial.

Esta é a primeira vez que o museu britânico participa deste evento, o mais importante do mundo no âmbito da arquitetura, que ressalta o papel que a cópia pode desempenhar na conservação de qualquer tipo de patrimônio.

Este é um dos projetos especiais incluídos na 15ª edição da Bienal. O curador, o chileno Alejandro Aravena, pediu aos participantes que apresentem ideias com o propósito de melhorar a qualidade de vida dos seres humanos.

Os objetos principais nesta mostra são tanto os mais 800 lugares Patrimônio da Humanidade que a Unesco considera em perigo como outros bens em risco, como por exemplo os arquivos digitais físicos ou na internet, que podem desaparecer para sempre.

A exposição da Bienal de Veneza exibe algumas das cópias em gesso de fragmentos de monumentos clássicos pelos quais o V&A é conhecido, assim como outros objetos mais recentes.

É o caso da reprodução em pedra sintética em escala 1:1 de um dos refúgios do acampamento de Calais, na França, nos quais milhares de pessoas esperam a oportunidade para atravessar o canal da Mancha.

A exposição mostra que a cópia de uma construção tão efêmera e frágil como esse refúgio pode ser a única maneira de, no futuro, se saber com detalhes precisos sobre a atual crise de refugiados que a União Europeia atravessa.

"Não dizemos que uma cópia é o mesmo que um original, reconhecemos que a cópia tem limitações. Mas, do ponto de vista do estudo e da conservação do patrimônio, uma cópia é melhor que nada de muitos pontos de vista", disse uma da curadoras da exposição, Danielle Thom.

Responsável pela pesquisa realizada para montar a exposição, Danielle Thom disse que o objetivo não é "ter todas as respostas desse ponto de vista, mas fazendo uma cópia há a opção de reconstruir".
O ponto de partida dos organizadores da mostra é que a mudança climática, inundações, terremotos, a urbanização descontrolada e o turismo em massa colocaram em evidência a necessidade de discutir formas de conservar o patrimônio.

As perguntas são: o que copiamos e como? Qual é a relação entre a cópia e o original em uma sociedade que avalia o autêntico? Como fazer com que esse esforço seja coordenado em escala global e inclusiva?

A participação do V&A ganha relevância como exemplo da produção de cópias, atividade na qual o museu londrino tem experiência desde o século XIX.

A exposição "Um mundo de partes frágeis" relata a atividade da cópia durante os últimos 200 anos, desde que em 1867 o primeiro diretor do museu estabeleceu um convênio sobre a troca internacional de cópias.

A mostra exibe parte do Arco do Triunfo da cidade de Palmira, na Síria, destruído parcialmente pelos integrantes do grupo jihadista Estado Islâmico que ocupou o sítio arqueológico, reproduzido em mármore com a ajuda de um cortador de pedra computadorizado pelo Instituto de Arqueologia Digital (IDA) e recentemente montado na Trafalgar Square, em Londres.

A cópia foi possível a partir de um modelo digital que utilizou a técnica da fotogrametria, que consiste em utilizar centenas de imagens para gerar um arquivo em 3D que depois foi usado para talhar o mármore.

Outro exemplo da utilidade da cópia é a reprodução em gesso de um busto criado por volta do ano 1470 pelo escultor renascentista Francesco Laurana e cujo original foi destruído em 1945: só a existência de um molde permitiu que seu volume e seus detalhes voltassem a ser apreciados.
A mostra exibe outro tipo de cópia, a dos arquivos digitais, cuja durabilidade parece não importar até pensarmos em sites na internet que não existem mais.

Do artista Andreas Angelidakis se exibe em Veneza a reprodução, em material sintético esponjoso, de "ruínas falsas" que procedem de um objeto que tinha sido criado para o jogo Second Life, de realidade virtual.

Os organizadores da mostra acreditam que os esforços para proteger a herança cultural "não têm limites, que sua natureza global reconfigura nossa avaliação do que merece ser copiado, seja um edifício, um objeto, um refúgio para imigrantes ou sons da natureza".

De acordo com outro dos curadores, Brendan Cormier, a crescente disponibilidade de scanners e impressoras 3D chega no melhor momento "no contexto da proteção da cultura, enquanto aumenta a ameaça da destruição de nosso patrimônio material mundial".

Fonte: EFE
Imagem: Freepik