15/09/2016

As mulheres têm a menstruação ao mesmo tempo? É por acaso

É costume acreditar-se que as mulheres que vivem na mesma casa ou que passam muito tempo juntas têm a menstruação ao mesmo tempo. No entanto, a teoria da sincronização da menstruação não passa de uma lenda urbana cuja única explicação é o acaso, como afirmou à BBC World a antropóloga Alexandra Alvergne.
Martha McClintock, psicóloga americana da Universidade de Harvard, foi a primeira a difundir a teoria da sincronização da menstruação, com a publicação das suas ideias na revista “Nature”, em 1971. A investigadora analisou os ciclos menstruais de 135 estudantes que viviam juntas nos dormitórios da faculdade de Harvard e constatou que o número médio de dias entre o início dos seus períodos caía de oito ou nove para cinco dias.
O seu estudo concluiu que quando as mulheres passam mais tempo juntas, as suas feromonas interagem e criam empatia entre si, de modo que os ciclos menstruais passam a coincidir uns com os outros.
McClintock foi mais longe e afirmou que esta era uma estratégia desenvolvida pelas mulheres para deixarem de ser um “objeto” do homem. Se todas fossem férteis ao mesmo tempo este seria incapaz de reproduzir todas. Um estudo de 1999 mostrou que 80% das mulheres acreditavam no fenómeno da sincronização e consideravam-no agradável.
A pesquisa de McClintock foi publicada numa altura em que o feminismo estava no seu auge. Alexandra Alvergne, professora de Antropologia Biocultural da Universidade de Oxford, no Reino Unido, acredita que esta foi uma das razões pelas quais esta ideia da sincronização se tornou tão popular. Alvergne assegurou à BBC que esta é uma crença popular:
Enquanto seres humanos, nós sempre gostamos de histórias emocionantes. Queremos explicar o que observamos através de algo que faça sentido. A ideia de que é devido ao acaso ou à coincidência não é tão interessante.”
Muitos são os investigadores que partilham da mesma opinião que Alvergne. Várias pesquisas detetaram falhas nos ensaios que defendem a sincronização. O principal erro é que esses estudos não consideram “a possibilidade do acaso ou da coincidência”, como refere a Sociedade Espanhola de Ginecologia Obstetrícia.
Um estudo feito a 186 mulheres que viviam juntas há um ano, na China, não encontrou sincronização entre os seus ciclos menstruais, assim como outro estudo feito a 26 casais de lésbicas cujos ciclos menstruais chegaram a variar até 10 dias.
Fonte: Observador