20/09/2016

Mudanças climáticas trazem mais doenças, afirma projeto da Fiocruz

Malária, Dengue e Leishmaniose são doenças tropicais que deverão ter a dinâmica delas alteradas pelas transformações do clima e afetar um grupamento maior de pessoas, revela estudo feito em 62 municípios

As mudanças climáticas podem influenciar a dinâmica de algumas doenças, principalmente as infecciosas. Neste caso, as doenças transmitidas por vetores, a exemplo de Malária e Leishmaniose, podem ser especialmente influenciadas pelo clima, pois fatores como temperatura e precipitação são capazes de interferir no ciclo reprodutivo de insetos transmissores de doenças. A conclusão é de  uma pesquisa que identificou a vulnerabilidade à mudança do clima nos 62 municípios do Amazonas.
De acordo com o estudo, que faz parte do projeto Vulnerabilidade à Mudança do Clima realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), alguns municípios do Alto Rio Negro (região Norte), da calha do Solimões (Central), Região Metropolitana de Manaus (RMM) e porção Sul do Estado  foram considerados os mais vulneráveis à ocorrência desses eventos.  
O município de São Gabriel da Cachoeira, no Norte do Estado, foi o que apresentou a maior vulnerabilidade à ocorrência das doenças avaliadas devido, principalmente, a maior frequência de dengue e acidentes por animais peçonhentos. Os outros municípios com elevada vulnerabilidade nesse item foram Tefé, com alta incidência de Leishmaniose Tegumentar, Manaus (Dengue) e Humaitá (Leishmaniose Tegumentar).
A pesquisa – que é realizada em mais cinco Estados brasileiros: Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco -, também avaliou aspectos relativos à população que pode aumentar sua vulnerabilidade em situações de mudanças do clima futuro, dentre elas, está o número de idosos, crianças e de população ribeirinha em cada município. 
O que se observou foi que grande parte do Estado apresentou uma vulnerabilidade intermediária, com destaque para o município de Boa Vista do Ramos (calha do rio Amazonas), o mais vulnerável do Amazonas. Conforme o estudo, um dos fatores que contribuiu para esse resultado foi o elevado percentual de população com alguma deficiência e a presença de jovens como chefes de família.
Outros municípios, como os da Região Metropolitana (Manaus, Careiro da Várzea e Itacoatiara) e do Sul do Estado (Boca do Acre e Lábrea), também se apresentaram vulneráveis, por motivos diversos, dentre eles o elevado contingente de população idosa e infantil, de população ribeirinha e de mulheres chefes de família.
Integrante da equipe responsável pelo estudo, Júlia Menezes lembrou que a mudança climática é uma realidade e as perspectivas não são muito boas. Além disso, não tem como evitar à mudança do clima, mas pode trabalhar para se adaptar a ela. “O que podemos fazer agora é tomar medidas de adaptação para que a gente possa lidar com os impactos, se recuperar deles com facilidade e garantir a qualidade de vida para a população”.
Estimativas graves
No Amazonas, a região Nordeste do Estado poderá apresentar um aumento de 5°C na temperatura e uma redução de até 25% no volume de chuvas nos próximos 25 anos. Entre os municípios mais expostos à mudança do clima, nesse mesmo período, estão Careio da Várzea e Parintins, além da Região Metropolitana de Manaus, em virtude de desmatamentos, variações bruscas de temperatura e poluição.
Preparando a adaptação
Iniciado em 2014, o projeto “Construção de Indicadores de Vulnerabilidade da População como Insumo para a Elaboração das Ações de Adaptação à Mudança do Clima no Brasil” é um esforço conjunto do Ministério do Meio Ambiente e da Fundação Oswaldo Cruz para a elaboração de uma proposta de modelo de análise da vulnerabilidade dos municípios em relação aos impactos da mudança climática global.
Espera-se que seus produtos possam subsidiar a implementação do Plano Nacional Brasileiro de Adaptação às Mudanças Climáticas, sob a responsabilidade do Governo da União, e orientar as políticas públicas dos governos estaduais visando à proteção da população e seus territórios.
Informações importantes
Além da divulgação dos dados inéditos sobre as alterações climáticas no Amazonas, representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estiveram em Manaus, na última quarta-feira, para apresentar o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima e debater sobre as mudanças do clima do País e questões relativas à vulnerabilidade das populações. 
De acordo com o representante do Ministério do Meio Ambiente, Pedro Christ, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima foi lançado em maio deste ano e tem quatro anos para ser inteiramente implementado. “O objetivo dele é reduzir os riscos do País à mudança do clima pensando num horizonte a longo prazo”, contou.
E são exatamente através de informações de pesquisas científicas que o governo federal elabora as ações. “É por meio desse tipo de estudo que promovemos articulações entre atores sociais, setores de planejamento do governo e a sociedade para levar informações a fim de que municípios e Estados possam desenvolver suas estratégias para enfrentar as mudanças”, explicou.
Ainda conforme Christ, o interesse do Ministério do Meio Ambiente em apoiar estudos sobre as mudanças climáticas, como o que identificou a vulnerabilidade à mudança do clima nos 62 municípios do Amazonas, é para que consiga desenvolver dentro do País uma visão crítica dos Estados, municípios e da sociedade como um todo sobre a adaptação ao fenômeno. 
“Dependendo da trajetória da emissão de gases de efeito estufa no mundo o clima vai se alterando e gerando impactos. A nossa preocupação é como se preparar para enfrentar esses impactos”, apontou. “A gente precisa saber quais são as mudanças para se preparar e antecipar soluções”, completou.

Fonte: A CRÍTICA